Presidente Getúlio é uma das cidades catarinenses que registraram pela primeira vez em Santa Catarina focos da chamada cigarrinha-do-milho, um inseto que transmite doenças e é capaz de afetar toda a cadeia, causando desde prejuízos significativos na safra até aumento no preço do leite e da carne.
Além de Presidente Getúlio, a Cravil revela que focos também foram encontrados em outras cidades do Alto Vale como Ituporanga e Taió, e autoridades como a Companhia Integrada do Desenvolvimento Agrícola (Cidasc) alertam que ela pode voar dezenas de quilômetros num dia chegando a outros municípios e regiões em pouco tempo.
O especialista no manejo das cigarrinhas, Charles Martins, da Embrapa comenta que na cultura do milho são 44 espécies, mas apenas uma delas é comum de transmitir as doenças que causam os enfezamentos. “As pesquisas têm mostrado que a cigarrinha só consegue se reproduzir no milho. As fêmeas colocam seus ovos dentro da folha, desses ovos saem as fases jovens que são chamadas ninfas e elas se transformam em adultas e logo temos uma nova população de cigarrinhas”.
Ele esclarece que os maiores danos à produção são causados pelas doenças transmitidas pelas cigarrinhas e não propriamente pelos insetos. “A cigarrinha se alimentar da planta não causa prejuízo, mas se ela estiver com os patógenos ela vai transmitir e causar as doenças bacterianas que são chamadas de enfezamentos”, esclarece Martins.
Os sintomas das doenças podem ser bastante variados dependendo de cada cultivar. Em alguns, a planta pode ficar com uma cor mais avermelhada, em outros mais amarelada. “De um modo geral temos avermelhamento na ponta das folhas e bordos, folhas secas nas pontas, proliferação de espigas que acabam sendo pequenas e com poucos grãos. Uma outra coisa que podemos perceber é o acamamento, as plantas têm menos raízes e começam a acamar”.
O engenheiro agrônomo da Cravil, Neimar Francisco Willemann, explica que a cigarrinha é uma praga recente em todo o país, mas esta é a primeira vez que ela é detectada na região do Alto Vale. “A presença dela provocando danos foi nessa safra e praticamente todos os municípios da região foi identificada essa praga”, disse.
Segundo ele o comprometimento da safra de milho varia bastante de lavoura para lavoura. “Normalmente os plantios do cedo não tem tanto problema, já os plantios um pouquinho mais do tarde, de outubro para a frente, como é mais calor ela se multiplica mais e causa problemas maiores. Também percebemos uma diferença entre híbridos de milho, tens alguns que são mais sensíveis e outros nem tanto, mas não podemos dizer que existem híbridos tolerantes. Alguns produtores têm bastante prejuízos, outros nem tão significativos”.
O engenheiro agrônomo ressalta que praticamente todas as lavouras já estão em fase de desenvolvimento, o que impossibilita a aplicação do inseticida para essa praga e não há muito para ser feito. “O que orientamos é que o produtor antecipe na medida do possível a colheita evitando que essas plantas caiam. Já pensando na próxima safra indicamos a eliminação das plantas ‘voluntárias’ que nascem casualmente nas lavouras porque aí a cigarrinha não tem do que se alimentar. Outra recomendação é o produtor adquirir híbridos que tem menos sensibilidade para ter a característica de tolerância genética e também o uso de um protocolo de aplicações de inseticidas químicos e biológicos”.
A pedido do Ministério da Agricultura, a Cidasc está recolhendo 100 amostras em diferentes regiões para análise, mas como a cultura do milho é estratégica, a praga pode impactar em toda a cadeia da pecuária elevando os preços da carne e do leite.
Para a Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar de Santa Catarina (Fetraf-SC) toda a cadeia de produção leiteira de Santa Catarina passa, neste momento, por um abalo causado por duas quebras consecutivas na safra de milho em função do clima e agora pela nova praga e o problema deve ser sentido no início do inverno.
A entidade declarou que a cigarrinha-do-milho traz ainda mais estragos na cultura, tanto para silagem, como para grãos, o que muito em breve causará impacto na cadeia produtiva do leite, já que o milho é um dos principais componentes na alimentação dos animais.
O agricultor familiar, José Giacomin, está preocupado com a praga. “A cigarrinha atacou a maioria das lavouras. O milho não enraíza e não consegue produzir a espiga, e isso vai dar um prejuízo imenso”.
Por Helena Marquartd
Diário do Alto Vale