Começo foi complicado. 'Os amigos começaram a pegar no pé', diz menino.
Rosana usa uniforme e é elogiada pela professora: 'Mulher que batalha'.
Depois de 28 anos afastada da escola, já perto dos 40 anos, Rosana Soares Sangaletti decidiu voltar a estudar. O que ela não imaginava é que iria parar na mesma classe do filho Paulo, de 13 anos. Hoje, os dois frequentam o sétimo ano de uma escola estadual de Urussanga, no Sul de Santa Catarina.
Fora da escola desde os 11 anos, quando abandonou os estudos para trabalhar, Rosana achou que precisava voltar às salas de aula em 2013. Como não havia turmas fechadas de educação para jovens e adultos na cidade, ela se matriculou no 4º ano no ensino regular. No ano passado, fez um exame, pulou o 5º ano e virou companheira de classe no filho.
No começo foi difícil para o garoto aceitar a ideia de ver a mãe usando o mesmo uniforme amarelo e sentada na carteira ao lado. “Os amigos começaram a pegar no pé”, conta Paulo.
Logo, porém, Rosana estava integrada à turma. Ela conta que acorda às 6h da manhã para cuidar da casa, segue para escola e depois emenda com o trabalho até as 23h - faz serviços gerais em uma fábrica de plásticos.
“Ser mãe, esposa, dona de casa, funcionária e estudante, tudo ao mesmo tempo, é difícil. Mas a gente espera sempre o melhor, né?”, diz Rosana.
A rotina é cansativa, mas tem valido a pena, segundo a mãe. “É bem corrido. A gente dorme pouco, não tem tempo de estudar para prova. E olha que estou com nota boa. Tirei um 9,5 em história sem abrir o livro!”, revela a estudante de 39 anos.
O esforço é reconhecido. “É uma mulher que trabalha muito, que batalha. Muitas vezes ela chega cansada e estafada da noite de trabalho que ela teve e mesmo assim consegue tirar energia para estudar”, diz a professora Margione Ganzer.
A direção e a gerência de educação não viram nenhum impedimento legal em incluir uma mulher de 39 anos em uma turma de ensino regular. Apesar de mãe e filho estarem na mesma sala, cada um sabe o seu limite. “Isso é importante para desenvolvimento do próprio aluno e dela também”, explica a diretora Lisiani Fenili.
“Mesmo parando de estudar quando era pequena, ela não desistiu porque tinha um sonho”, diz Isis Gonçalves, que estuda na mesma classe de Rosana e Paulo. Aos 12 anos, a menina valoriza a determinação da colega mais velha. “Ela voltando a estudar é um exemplo para todo mundo da sala”.
G1SC