Santa Catarina, que é o estado brasileiro líder no ranking de doação de órgãos, está passando por mais um período histórico, já que apenas no primeiro trimestre de 2019, foram realizadas 72 doações, com um crescimento de quase 20% em relação ao mesmo período do ano passado. No Hospital Regional Alto Vale (HRAV), em Rio do Sul, até o momento foram registradas basicamente as mesmas doações do ano passado neste período, somando quatro doações das setes notificações.
Em todo o estado, neste ano foram 21 doações em janeiro, 24 em fevereiro e outras 27 em março, sendo que no ano passado, o primeiro trimestre contabilizou 59 doações.
Além do crescimento significativo, a SC Transplantes, estrutura vinculada à Secretaria de Estado da Saúde responsável pela coleta dos órgãos, registrou dois recordes em 2019: o melhor desempenho de fevereiro – que tinha historicamente índices baixos chegando ao recorde em 2017 com 20 doações – e o maior número de doações em um único dia. “Os números dos últimos meses mostram que podemos superar nossas marcas históricas.
Os indicadores têm evoluído mês a mês, o que é salutar para atender a necessidade da população de Santa Catarina. Nós agradecemos a solidariedade das famílias catarinenses”, disse o coordenador estadual da SC Transplantes, Joel de Andrade.
De acordo com o enfermeiro da Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes (CIHDOTT) e da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) do HRAV, Tiago Leitzke, 29 pacientes tiveram morte encefálica no HRAV no ano passado. Destes, seis tinham contra-indicação clínica, 23 pacientes tiveram as famílias entrevistadas e 13 aceitaram a doação de órgãos, o que representou 56,5%.
Tiago conta que apesar de todas as campanhas e conscientização, a recusa à doação de órgãos ainda está muito associada a não falar sobre a doação com a família e a família ter dúvida no momento da decisão. “A grande parte da recusa tem relação direta ainda com o não conhecimento da família em relação ao desejo do doador, ou porque em algum momento o paciente relatou não ser doador”.
Além disso, o enfermeiro contou que muita gente ainda não se declara doador por não conhecer o processo. “Muitas vezes o não querer tem relação com o não conhecer adequadamente o processo, ou ainda ter medo da questão de tráfico ou coisas desse gênero. Este é um ponto bastante importante que ainda precisa ser trabalhado, porque a transparência do processo muitas vezes ainda não é acessível para todos”.
Número de órgãos transplantados
No Alto Vale, quatro pessoas já receberam o transplante neste ano. De acordo com o médico responsável pela Renal Vida de Rio do Sul, Dr. Leontino Ribeiro, atualmente somente 22 pacientes estão na fila de espera por transplante de órgãos no Alto Vale.
Ainda segundo ele, em 2018, 26 pacientes da região receberam o transplante e de toda a Renal Vida, que abrange outras regiões do estado, até hoje são 1.556 pessoas beneficiadas, dentre elas, 200 do Alto Vale.
Em relação aos transplantes no estado, o crescimento também foi significativo, passou de 235 entre janeiro e março do ano passado para 291 realizados em 2019. Foram 117 transplantes de córneas e 58 de rins.
O número de doadores cresceu desde 2005, com um incremento de 50% na taxa de doadores efetivos nos últimos seis anos. A taxa de doações efetivadas em 2019 é de 46%. Em 16 casos notificados houve contra-indicação clínica, e em outros 29 ocorreu a recusa por parte de familiares.
Sobre o processo de doação
O trabalho das equipes de saúde começa nas UTIs. Para manter o índice elevado de famílias que permitem a doação dos órgãos, o hospital adota uma série de critérios antes de entrevistar os familiares do paciente que recebeu o diagnóstico de morte encefálica.
Existe um protocolo nacional padrão que se faz a partir da comprovação da morte encefálica, para ver se há a possibilidade da doação de órgãos. O processo inicia a partir do momento que o paciente possui uma doença neurológica grave, ou possíveis doenças cerebrais que podem gerar a morte.
Depois da primeira suspeita clínica, com a vista de reflexos cerebrais, a equipe comunica a família da possibilidade de uma morte cerebral. Se dado o diagnóstico de morte encefálica, a equipe oferece as famílias dois possíveis caminhos, o de entregar o corpo para os procedimentos de sepultamento ou para a doação de órgãos. “A família que vai definir. A decisão é sempre da família, que vai escolher se quer doar ou não os órgãos. Uma vez a família aceitando a doação, a gente informa a SC Transplantes, que é o órgão que rege, e ela começa a fazer todas as buscas e direcionar quem serão os receptores dos órgãos”, finalizou Leitzke.
Por Elisiane Maciel
Diário do Alto Vale