Agentes da Diretoria Estadual de Investigações Criminais (Deic) cumpriram mandados de busca e apreensão no endereço do ex-deputado federal Nelson Goetten de Lima, preso por suspeita de estupro e favorecimento à prostituição de vulnerável, e de Cristiane do Carmo Alves Paes na noite desta segunda-feira.
Eles estavam em busca de material pornográfico envolvendo menores. Num dos endereços de Goetten, um apartamento no edifício Splendour Of The Sea, em Itapema, Litoral Norte de Santa Catarina, nada foi encontrado.
Na casa de Cristiane, em Rio do Sul, no Alto Vale do Itajaí, foram apreendidos alguns computadores, que serão analisados ao longo da semana.
Ambos foram presos preventivamente nesta segunda. Cristiane é suspeita de favorecimento à prostituição. Ela teria aliciado a prima de 14 anos para Goetten. A jovem teria sido vítima de abuso por duas vezes.
Além deles também foi preso Gilberto Orsi, o Beto, que é professor de fanfarra e suspeito de ser o responsável por aliciar meninas para festas privê no apartamento em Itapema. Nesta semana, a Deic deve se empenhar em ouvir as vítimas.
As prisões
O ex-deputado foi preso às 17h quando esperava para ser atendido em uma barbearia no Bairro Campinas, em São José, na Grande Florianópolis. Ao estender a mão para cumprimentar o delegado Cláudio Monteiro, diretor da Deic, foi surpreendido por um mandado de prisão preventiva.
Algemado pelo delegado ainda na barbearia, Goetten seguiu para a Deic, na Capital, no camburão da Caminhonete da polícia. No mesmo instante, outras equipes da Deic prenderam o professor Gilberto Orsi, o Beto, e a vendedora de lingeries Cristiane do Carmo Alves Paes.
Os dois são moradores de Rio do Sul, no Alto Vale do Itajaí, a região da base política de Goetten. O professor foi capturado na BR-282, no posto da Polícia Rodoviária Federal, quando ia de Florianópolis para Rio do Sul.
Goetten, Beto e Cristiane tiveram prisão preventiva decretada pela juíza Andréa Vaz, de Itapema, a pedido do delegado da Deic, Renato Hendges. O policial coordena há três meses investigação da Polícia Civil em que o ex-deputado figura como suspeito de estuprar uma adolescente de 14 anos, moradora de Rio do Sul, sobrinha de Cristiane.
De acordo com o delegado, Goetten era monitorado pela polícia em grampo telefônico autorizado pela Justiça. O deputado sabia que estava sendo investigado e chegou a ser interrogado em abril, na Capital. Depois disso, ele teria tentado coagir testemunhas e as prisões acabaram sendo decretadas e cumpridas hoje.
Meninas com perfil humilde
O delegado disse que as meninas aliciadas para as orgias seriam do Vale do Itajaí e teriam perfil humilde, com idades entre 14 anos e 16 anos. A polícia revelou que há menção nas escutas telefônicas de pagamentos a partir de R$ 150,00 pelos encontros com as garotas. Num dos telefonemas, Beto teria dito a Goetten que "as meninas pegam 200 pila e não olham mais para a gente".
As festas aconteceriam aos finais de semana em apartamentos que o político frequentava no condomínio de luxo Splendour Of The Sea, em Itapema, litoral Norte.
Embriagada por dois adultos
Um lanche com a prima foi o ponto de partida para a menina, então com 14 anos, encontrar o deputado, em novembro de 2009, em Itapema.
A garota passava uns dias na casa da prima com a mãe. Segundo depoimento da mãe da vítima, Cristiane conseguiu convencê-la a deixar a filha sair com ela para um passeio. No mesmo dia, as primas teriam encontrado Goetten e outras três adolescentes em um show de música sertaneja. De lá, o grupo seguiu para uma boate e terminou a noite no apartamento do ex-deputado no condomínio Splendour, no Centro de Itapema, no Litoral Norte.
Meses depois, quando a investigação estava em andamento, a vítima disse à polícia que os dois adultos a teriam feito ingerir bebida alcoólica.
Um segundo abuso teria acontecido em Rio do Sul, no Alto Vale, em junho de 2010. Cristiane também estava morando na cidade nessa época e a vítima cuidava dos filhos da prima. Ela teria combinado com Nelson Goetten, que foi até a cidade e buscou a menina.
De acordo com depoimento da adolescente à polícia, o suspeito a teria levado até um motel na cidade, a amarrado em uma cadeira e cometido o estupro. Depois disso, teria deixado a garota de volta em casa e dado a ela cerca de R$ 150 para serem entregues a Cristiane.
O caso só foi descoberto meses depois. Cristiane também estaria se relacionando com o ex-deputado e o marido dela descobriu. Ele então contou o que sabia a um tio da adolescente. Esse tio, por sua vez, contou aos pais da garota que registraram o caso na delegacia.
Dois inquéritos foram abertos, um em Rio do Sul e outro em Itapema. Mas como na época dos crimes Nelson Goetten ainda era deputado, as delegacias encaminharam o caso à Deic.
A vítima disse à polícia que era ameaçada para não contar o que houve. Ao saber que a família da jovem estava disposta a denunciá-lo, Goetten teria oferecido dinheiro para que eles não registrassem boletim de ocorrência do caso. Após o registro, ele teria voltado a oferecer dinheiro aos pais da menina para que retirassem a queixa.
A investigação do caso pela Deic levou, também, a Gilberto Orsi. O popular Beto, que é professor de fanfarra e costuma promover concursos de bandas escolares, seria o responsável por aliciar meninas para participar de festas no apartamento de Goettten. Com base em escutas telefônicas, a polícia teve a confirmação de que pelo menos três adolescentes teriam sido levadas para o mesmo local.
Deputado defende-se e nega acusações
Sem algemas, o ex-deputado Nelson Goetten falou por dois minutos com os jornalistas no saguão da Deic às 20h, ao lado do advogado Roberto Fernandes. Respondeu a poucas perguntas. Disse que as acusações não são verdadeiras, que achava estranha a prisão e se colocou à disposição da Justiça para esclarecer os fatos.
— Sou inocente no que estão falando e no caso do estupro. Vamos dar explicação na Justiça sobre esse fato que nos contrange muito e nos deixa muito tristes — declarou Goetten.
Na rápida entrevista, o político admitiu que frequentava eventualmente o condomínio Splendour Of The Sea, em Itapema, "de amigos". O seu advogado interrompeu a fala e disse que o seu cliente ainda não teve conhecimento de todas as acusações, mas que colocou "a sua vida à disposição da Justiça para apurar a verdade e por isso foi orientado a permanecer calado".
Gilberto Orsi não quis conversar com os jornalistas. O DC não teve acesso ao seu advogado. Cristiane do Carmo Alves Paes está presa em Rio do Sul. O seu advogado também não foi localizado nesta segunda-feira.
Fonte - Diário Catarinense