Vitor Lauro Zanelatto, 17 anos, foi o único representante da região Sul do Brasil a ser escolhido como Jovem Transformador. O projeto é da Ashoka, considerada uma das Organizações Não Governamentais (ONGs) de maior impacto social no mundo. Em todo o país são apenas nove integrantes, que estão engajados em diferentes causas. Morador de Atalanta, no Alto Vale do Itajaí, ele entrou para o time com o projeto Plantando o Futuro, trabalho dedicado à conscientização da comunidade, sobretudo de produtores rurais e alunos, sobre a necessidade de recuperar e preservar o meio ambiente.
A iniciativa surgiu dentro da escola, a EEB Dr. Frederico Rolla. No início eram apenas 12 integrantes, que faziam intervenções pontuais de plantio de árvores. Com o tempo, foi percebido a necessidade de ir além. Em 2016, foram estipuladas diretrizes, trabalhado formação e agora os integrantes atuam pautados nos dados do Cadastro Ambiental Rural (CAR). Segundo o documento, é preciso recuperar cerca de 80 hectares de Área de Preservação Permanente (APP) nas 839 propriedades cadastradas na prefeitura de Atalanta. Para esse desafio, o grupo ganhou reforço e já mobiliza 30 estudantes a partir dos 12 anos.
– Começou com a vontade de vários alunos de turmas diferentes da nossa escola querendo fazer algo pelo meio ambiente. Então, a princípio, iríamos fazer algumas ações e apresentamos umas ideias na amostra da nossa escola. Aí, a comunidade começou a se engajar e vimos que não poderia parar. Então, continuamos e estamos crescendo cada vez mais e abraçando novas ideias – conta Vitor, um entusiasta do voluntariado.
O trabalho do Plantando o Futuro é árduo, mas eles não estão sozinhos. As ações, que já chegam a 78, vão ao encontro do projeto Restaura Alto Vale. É um caminho que o poder público e entidades encontraram para ajudar produtores rurais a recuperar áreas degradadas da Mata Atlântica e a conservar os mananciais. Uma dessas intervenções ocorre na propriedade de Artur Baggio. Quando ele fez o CAR, percebeu a necessidade de reflorestar dois hectares da área onde cria gados e planta, entre outras coisas, soja. Agora, falta apenas um quarto do total.
– A maioria dos agricultores acha que a área vai fazer falta, mas não é assim. Ele pode plantar árvores frutíferas. Nos primeiros anos, enquanto elas estiverem baixas, pode plantar abóbora, aipim, batata. Futuramente, dá para criar galinhas. Pode até se tornara agricultura de subsistência, para ele por na mesa um produto natural – diz Baggio, ao ressaltar também que falta orientação e apoio das autoridades.
A capacidade de Vitor para sensibilizar pessoas, engajá-las na causa, criar uma ação de enfrentamento ao problema e conseguir tirar o projeto do papel reúne os quatro critérios avaliados por uma banca para que ele passasse a integrar os Jovens Transformadores da ONG Ashoka. Ao todo, 60 pessoas foram indicadas ao projeto, mas somente nove entraram para o seleto grupo. Eles passaram por um longo processo para chegar onde estão. Foram duas avaliações, uma nacional e outra internacional, mais um painel até a decisão final para aprovação.
– Chama nossa atenção a clareza com que o Vitor reconhece a realidade da cidade dele. Se a gente consegue dar escala para o que ele faz, podemos ter um impacto enorme no Brasil. Com a rede de jovens transformadores e empreendedores sociais, ele vai se conectar com pessoas inclusive de outros países e conhecer estratégias de impacto para a ação – explica Helena Singer, líder de Juventude da Ashoka na América Latina.
(Foto: Patrick Rodrigues / Jornal de Santa Catarina)
O desafio de educar as crianças e convencer os adultos
A base da economia de Atalanta é a agricultura, sobretudo na produção de soja, fumo e cebola. Segundo o IBGE, a população é estimada em 3,3 mil habitantes, dos quais são cerca de 550 alunos, a maioria filhos de produtores rurais. As crianças são o alvo do trabalho de educação ambiental do projeto Plantando o Futuro, e por um motivo compreensível:
– Às vezes, uma pessoa de fora falando desse contexto não é bem aceita. Historicamente, a preservação ambiental foi vista como inimiga do desenvolvimento econômico e queremos mostrar que não, que é possível conciliar. É um movimento difícil ainda, encontramos resistência, e as crianças muitas vezes são a forma de chegar até esses produtores – explica o líder do projeto, Vitor Lauro Zanelatto, 17 anos.
Focado nos pequenos, surge agora outra iniciativa, o projeto Sementinha, voltado aos estudantes do primário. Quanto mais cedo eles forem envolvidos nas ações, melhores serão os resultados. A professora Margaret Delabeneta, uma apaixonada pelo trabalho voltado ao meio ambiente, vê no envolvimento de crianças e adolescentes o caminho para manter o trabalho vivo, além de refletir o empenho do colégio em formar cidadãos conscientes e engajados.
Perceber que aquele gostinho da aula de ciências, quando eles identificavam o que forma água, o gás carbônico, o ar que a gente respira, e depois na química, para entender as reações e compreenderem o que cada um pode fazer para amenizar isso, e de repente virar uma ação concreta, onde eles podem e conseguem reduzir esses impactos, é muito gratificante para nós professores – confessa Margaret.
Se os pequenos aprendem cedo que é preciso cuidar da mata e das nascentes, o que se espera é um futuro melhor. Uma realidade bem diferente do que se teve no passado, quando a Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida (Apremavi) encarou uma verdadeira batalha contras os impactos gerados pelas mais de 450 serrarias existentes no Alto Vale do Itajaí, na década de 1980.
– Existe um levantamento de como era, como está hoje e o que precisa ser feito. Temos também um programa para que todas as nascentes sejam restauradas e as áreas permanentes recuperadas. Isso inclui o nosso trabalho, da prefeitura e de grupos como o Plantando o Futuro. Essas áreas são extremamente importantes não só para a qualidade de vida das pessoas, mas para a economia. Então, é um movimento que a sociedade precisa assumir e o envolvimento dos jovens nisso é extremamente importante – reforça Miriam Prochnow, uma das fundadoras da Apremavi.
A ONG
Saiba mais sobre a Ashoka:
A ONG Ashoka foi criada em 1980 na Índia, e está presente no Brasil desde 1986. É uma organização sem fins lucrativos que lidera um movimento global para que as pessoas se reconheçam como agentes de transformação social. Para isso, trabalha na criação de vínculos com o objetivo de incentivar e dar visibilidade a soluções inovadoras e de impacto sistêmico para problemas sociais.
Por NSC Total