Quando a sexta-feira amanheceu em Rio do Sul a expectativa dos 67,2 mil habitantes da cidade era que o rio Itajaí-Açu começasse a baixar, o que só ocorreu lentamente após as 7h. Para a funcionária pública Heloisa de Souza, 29 anos, a única esperança era a de encontrar alguém que pudesse levá-la para casa, em Ituporanga, de onde saiu na quarta-feira e para onde não tinha conseguido voltar. O desespero já tinha dado lugar à paciência quando ela atendeu o telefonema na central de atendimento da Defesa Civil e ouviu a voz do amigo:
— Eu tô aqui, vem me buscar! Ele vem? Eu espero! Fico aqui!
O diálogo rápido cortado por lágrima e sorriso abriu o caminho para o alívio em saber que conseguiria voltar para a casa onde mora sozinha, no Centro de Ituporanga, desde que assumiu uma vaga conquistada em concurso público e decidiu deixar a família em Joinville. A viagem a Rio do Sul, feita em transporte coletivo, foi em busca de uma nova colocação profissional. As chuvas da última quarta-feira bloquearam a estrada que liga as duas cidades e Heloisa não conseguiu voltar. Dormiu em um abrigo, pediu ajuda nas rádios e decidiu ficar na sede da Defesa Civil. Quando o amigo Carlos Vieira, 25 anos, apareceu na porta ela não conteve, mais uma vez, as lágrimas, e o abraço apertado selou o fim de 48 horas de desespero.
— Eu vi foto da minha Rua no Centro e estava totalmente alagada. Eu deixei minha casa, meu gato, meu emprego e não consegui mais voltar, mas agora vai dar tudo certo – comemorou.
Hora de esperar
Pelo menos 22 dos 25 bairros de Rio do Sul registraram problemas, de acordo com a Defesa Civil de Rio do Sul. Em vários pontos da cidade a mobilidade ficou prejudicada pelos alagamentos e na manhã de sexta-feira muitas pessoas já circulavam de carro pelo Centro deixando o tráfego complicado —motoristas trafegavam pela contramão. Nos bairros afetados a cena era sempre a mesma: moradores observando a evolução das águas. Mas em todo lugar havia um canoeiro solidário, pronto para transportar algo ou alguém pelas águas barrentas e malcheirosas da enchente. Numa das esquinas alagadas do bairro Budag esse navegador era Sérgio Miguel, de 56 anos:
— A gente faz o que pode, né. Sempre tem gente precisando nessas horas. Aqui na igreja do bairro nem é abrigo, mas abrimos o salão para guardar as coisas do pessoal e tem gente alojada. Na enchente é assim.
Trabalho em equipe que salva vidas
O Corpo de Bombeiros montou sede no Colégio Dom Bosco, ao lado da Igreja Matriz de Rio do Sul, para atender aos chamados. Para reforçar o atendimento, a companhia riosulense recebeu, até sexta-feira, forças-tarefa de Lages, Curitibanos e Tubarão, o que contabilizou cerca de 50 profissionais trabalhando.
De acordo com o segundo-tenente Bruno Golin Sprovieri, o principal chamado era para retirada de pessoas ilhadas. Só na quinta-feira foram atendidos cerca de 70 casos. Sexta-feira bombeiros de Tubarão resgataram de barco um cadeirante que precisava fazer hemodiálise. Assim que entregou o paciente para a ambulância, a equipe foi atender outras famílias.
Jornal de Santa Catarina